segunda-feira, 16 de junho de 2008

Como surgiram os Katas?

Diz a lenda que um mestre de Karatê-Dô em suas andanças numa noite de lua cheia pressentiu no chispar dos galhos secos, ao transpor numa clareira na mata, a presença do mal. São salteadores armados, em tocaia seu instinto guerreiro e defensivo o põe em Kamae, atitude de luta. Está imóvel. Abdomem contraído, punhos cerrados. Atento, olhando nada e vento tudo. Altamente concentrado, espírito vivo e aguçado. Vai lutar ! Seu repudio ao mal, seu Kimono intocável, sua honra, seu nome e sua vida, tudo está simbolizado no Kamae. Sua mente visualiza ao longe, num halo de luz, seu velho mestre, que em atitude de ZEN inspira-o. Suas sábias palavras de ensinamento ecoam ainda: “ANTES QUE LHE TOQUEM A PELE, TOCA-LHES OS OSSOS”. Inconscientemente curva-se reverente e brada: “OSS” É atacado ! Pela esquerda, brilha a lamina. Consciente e veloz bloqueia e ataca com kime. As suas costas, um segundo de lança em riste. Bloqueia firme e forte. Ele sabe que “DEVE ENFRENTAR O ADVERSÁRIO, MAS, NUNCA SEU ATAQUE”. Está na base ZEN-KUTZU e defesa GUEDAN-BARAI. Seguro pelo punho. Recolhe girando o braço e golpeia no ombro com martelo TATE-TETSUI-UCHI. Completa com um soco (OI-ZUQUI) fundo e seco, tirando toda chance do agressor. Da esquerda em pé sibila. É o terceiro agressor. Como um raio, um bloqueio GUEDAN-BARAI. Quase simultaneamente um bastão corta o ar cobrindo a lua várias vezes. O inimigo bate recuando de cima para baixo. As defesa são AGE-UKE protegendo a cabeça, a terceira mais rápida e mais funda, a fim de partir o braço na altura do cotovelo. Nesse golpe o mestre emprega toda sua força e toda sua velocidade. Solta um grito do fundo de suas entranhas; um grito de guerra num berro de morte: “É o KIAI”. Nada o Detêm. Há uma transformação total no corpo e no espirito. A mutação de força em poder; de massa em energia, de água em fogo. Estar possuido de KIAI é despertar a ARMA MORTAL DA POMBA ENFURECEIDA, o KARATÊ-DÔ. Silêncio na mata. Passa a perplexidade. É atacado pela direita. O mestre gira o campo de luta, defende e ataca. O instinto vira-lhe a cabeça quando pelas costas o primeiro atacante insiste com a faca. Suas pernas trocam de direção da base. Rolando seus quadris como um eixo, seus braços tal uma espada – acompanhando o impulso do corpo – descem em diagonal. No momento do contato dos “UDES”, um acréscimo de velocidade e torção desarma o adversário. Antes que tente recuar é alcançado com OI-ZUQUI. O terceiro ergue-se a sua esquerda estocando-lhe com um bastão, recebe um GUEDAN-BARAI e um OI-ZUKI andando; como resiste mais dois OI-ZUKI, sendo o segundo com KIAI. O KIAI dá-lhe firmeza, força e resolução de PARAR o adversário, em Karatê-Dô, não há meia defesa, nem meio ataque. Desesperado o da esquerda bate com a lança da direita para esquerda de fora para dentro e vice-versa. O mestre gira em base KO-KUTZU e com dois cutelos (SHUTO-UKE) parte a arma. O Último imita a agressão e sente no poder das mãos em forma de faca, a devassar a mata ao redor, o poderio do Karatê-Dô. A luta chega ao fim. Por um instante mantém-se imóvel na última defesa. Volta a postura inicial de KAMAE. Lembra seu SEI-PAI em sua posição de ZEN e procura-o. Em vão; já não consegue vê-lo mais. Isto é KATA, é ZEN, é KARATÊ-DÔ!!

Um comentário:

mari disse...

Qual a origem da lenda do heian shodan? Um livro? Obrigado.